quinta-feira, abril 24, 2008

Síndrome de Don Juan



De onde vem esse tolo
Que se julga suficientemente bom
Para pairar aqui ou lá
Apaixonado por si próprio
Alucinado por suas próprias frases de efeito
Escorrega e tropeça na própria soberba
Veste-se de prepotência
E aponta os meus defeitos?
Não enxerga o próprio retrato
Nem o cenário que pode lhe engolir
Esse saborzinho de empáfia
Ficou por aqui
Como em outrora
Descuidei de mim
Quem tropeçou fui eu
Por acreditar que sensibilidade
É um adjetivo generalizado
Como dizia Vinícius
“A maior solidão do homem
É encerrada em si mesmo ...
E em paga o homem mata com a navalha”
Agora compreendo uma entre
Tantas outras coisas que me escapavam
E agora completam o emaranhado desse
Mosaico desfocado
Se pensar com uma das cabeças
Que não seja a que abriga o cérebro
Os resultados serão esses disparates
Lançados ao vento que contaminam
mais que a própria doença
A audácia perniciosa
não é o ato de se colocar na frente
Mas o de se achar superior
As reviravoltas do destino
Demonstra interesse,
Mas recua por medo de se envolver
Eterno sedutor acha mesmo
que charme e lábia ganham sempre?
O espelho é seu maior inimigo,
Será que visualiza quem mora ai dentro?
“Very Irrésistible ?”
Se desfaz em mil pedaços
quando percebe que não é irresistível
Bem resolvido?
Acredita mesmo nisso?
Padece da síndrome de Don Juan
Essa procura aleatória
Em satisfazer o oportuno egocentrismo
Quanto mais, melhor!
Só assim consegue se reafirmarTece a teia, envolve, comove
Seduz, satisfaz e descarta.
Usa como se troca de roupa
E o que é pior,
Deixamos ser usadas
Até nos tornarmos imunes
Ao seu doce veneno
Oh, senhor Onipotente!
Agora rege a terra, o céu e o mar,
Também domina situações
Mas peca em achar que
Apodera-se dos sentimentos
Pobre mortal que se julga o tal
Mal consegue amar uma única mulher
Aventura-se na conquista de todas
Como se fosse objeto de coleção
O intruso ousa usurpar a emoção alheia
Pena de ti que não se encontra em si mesmo
Que dirá em outros braços
Uma vez experimentado o deslumbro
Da própria imagem
Eternamente escravo
de sua vaidade se tornará!

***


> Have You Ever Really Loved A Woman???



***

sábado, abril 19, 2008

Porque não hoje???



Então hoje seria o dia
O meu dia de gritar bem alto
Hoje eu ficaria aqui ou sairia ali
Só queria que hoje fosse assim
Tudo do meu simples jeito
Não ter que levantar apressada
Com os minutos contados
Esse meu tempo cronometrado
Sufocando meu direito de respirar
Hoje só quero ficar desarrumada
Cabelos desalinhado
Não preciso de maquiagem
Para sentir que meus traços definem o que sou
Nem de artifícios de beleza para provar quem sou
Hoje vou passar longe da moda e dos conceitos
Impostos pela sociedade
Só preciso curtir eu mesma
Assim da maneira que quero
Meu modelito desajeitado
Quero ficar de pijamae com minhas meias listradas
Descer as escadas pelo corrimão
Me jogar no sofá e curtir
O eco que meus batimentos emitem
sem me importar em parecer ridícula
Deixe-me morder os lábios a vontade
prender os cabelos do meu jeito
sentar como eu gosto
dar minhas gargalhadas escandalosas
e assobiar como eu sei
Só quero ficar na cozinha inventando
As minhas receitas para quem quiser provar
Poder olhar os peixinhos se movimentarem no aquário
Ir para o quintal descalça, regar minhas plantas
E perceber que algumas brotaram e outras morreram
Hoje sou eu quem vai dar banho no meu cachorro
Faz tempo que não rolo com ele e nem o levo para passear
Vou ficar assim sem cumprir nenhuma das regras diárias
Tentar desligar do trabalho
e das coisas que me acorrentam
Não vou abrir meus e-mails,
mas quem sabe escrever uma carta?
Vou comer tudo que tenho evitado: pipoca, pizza, brigadeiro e doce de leite!
Assistir meu filme favorito e voltar na melhor cena quantas vezes eu desejar
Ouvir minhas músicas “cafonas” até enjoar do refrão
Cantarolando bem alto sem me preocupar se desafino ou não
Rabiscar aquelas frases que insisto em achar que fazem sentido
Vou passar longe do espelho
E desviar dos saltos altos
Não quero olhar no relógio
Tomar aquele banho demorado e ficar de roupão sem ter que me arrumar
Fazer minha meditação sem pressa para acabar
Tirar o telefone do gancho
E curtir meu mundo particular
Aqui seu conceito não me interessa
Suas críticas não me atingem
E o jeito que você olha não me ofende
Vou fazer tudo do meu jeito
Não quero ser vista com lente de aumento
Nem ter minhas atitudes contestadas em um microscópio
Anoiteceu e vou contar estrelas
Procurando uma estrela cadente
Porque ninguém vai rir das minhas manias e neuras
Estou sozinha acompanhada de mim
E nesse infinito que me cerca
Percebo o quanto é bom prestar atenção em nós mesmo
Vou fazer diferente
E tudo o que quero hoje é apenas esse tempo para
me sentir, me ouvir, me entender
então deixa eu ser quem eu sei ser!

...

terça-feira, abril 15, 2008

Insônia: essa que me faz companhia




Incrível como relutei em escrever algo sobre a insônia, talvez porque me remete a horas sofridas, horas em que me encontro totalmente desesperada.
Mas hoje pela manhã, me deparei com um blog que entre diversos textos (muito bons por sinal), o que me chamou mais atenção foi exatamente um sobre insônia.
Na verdade, confesso que minha curiosidade era em saber se encontraria as respostas para minhas tentativas frustradas de atrair o sono, ou me simpatizar com alguns das muitas sensações que surgem na penumbra da noite, quando tudo que esperamos é que o sono vem nos acalentar.
Minhas experiências com a ausência de sono, vêm de muito tempo, desde criança tinha problemas para dormir. Mas ao passar dos anos os sintomas foram se acentuando, e as crises cada vez mais presentes.
O maior pesadelo não é aquele que temos em sono profundo, mas o que não nos deixa adormecer. Essa é a real sensação de que sofre desse mal.
O irônico é que apesar disso, sou amante da noite, adoro quando o escuro se anuncia, as luzes se apagam, o silêncio se faz presente, mas com ele vem a angústia de não ter o domínio do corpo e da mente.
A madruga se arrasta não se encontra lugar na cama, remexe de lá para cá sem solução, as lembranças rodeiam, os pensamentos entram em colapso, essas não passam, atormentam. Os fantasmas fazem fila na porta do quarto, os medos eclodem como um vulcão, os lobos internos, tudo parece ser tão pavoroso e cruel, quando a única coisa que se quer é adormecer naturalmente.
Tratamentos, técnicas de relaxamento, terapias alternativas amenizam o problema sim, as crises cessam até o dia em que recomeçam por algum motivo.
Como as crises insuportáveis de enxaquecas as de insônias também são controláveis, mudanças nos hábitos, na alimentação, terapias entre outros são bons aliados.
Costumo dizer que meu melhor terapeuta e aliado são os livros, companheiros mais que fiéis, presentes e acalentadores.
Apesar de não ser nada agradável conviver com esses momentos de impotência, fui aprendendo que tudo é uma questão de óptica e de adaptação, o ser humano tem essa maravilhosa função que é a da flexibilidade, então para tudo se dá um jeito, não há mal que dure eternamente.
Aprendi a transformar essas infinitas horas noturnas em “meus momentos de insanidade”. Exatamente assim, quando o sono não vem me visitar prontamente, espero por ele com menos ansiedade, menos pavor e agonia, hoje outros sentimentos estão dando espaço para esses períodos.
Meia luz, boa música, meus livros, meu lugar favorito, o cheirinho gostoso do meu ambiente, o chá quentinho para ajudar a relaxar, o trabalho que posso adiantar, meus poemas implorando para serem escritos, faz as horas fluírem com uma harmonia que estou descobrindo dia após dia.
Aquelas tão desejáveis 6 a 8 horas bem dormidas, ainda estão longe de se realizarem, mas quem sabe um dia.
Muitas coisas tiveram que serem deixadas de lado, meu café adorável, os chocolates que me tiram do sério, e tantas outras coisas que aprendi que precisam ser evitadas nessas crises constantes.
Houve vezes que achei que fosse enlouquecer, tive acessos de raiva, descontrole, de choro e quase sempre ficava revoltada, só que percebi, que nenhuma dessas reações contribuiam para meu bem estar, de nada adiantava me martirizar, a não ser aprender a conviver com o fato de eu ter sim problemas para dormir e de milhares de outras pessoas também passarem por esse tormento e mesmo assim levarem uma vida saudável.
O bom da vida é estar diante dos desafios e descobrir formas de poder ultrapassá-los e quando isso não é possível enganar os problemas e aprender a lidar com eles da melhor maneira possível e sempre de bom humor.
Apagar a luz, folhear livros sem interesse, ligar a TV, levantar, se remexer na cama de um lado para o outro procurando a melhor posição, pensar nas mil coisas a fazer, nos problemas, nas contas a pagar, nos projetos a finalizar, ligar para alguém que ainda esteja acordado, beber alguma coisa quente, ouvir músicas, recitar um mantra, fazer orações, chás relaxantes e afins, contar carneirinhos, elefantes e até dinossauros, já passei por todos esses estágios.
Todas as tentativas possíveis e inimagináveis, até que você percebe que se não pode com ela, junte-se a ela, e dê boas gargalhadas dos seus momentos mais sombrios.
O importante é sempre tentar extrair o melhor de cada crise, de cada fase negra que passamos em todos os aspectos de nossa vida.
Como encarar o outro dia?
Um bom banho revitaliza as energias, e a certeza de que um dia pode ser melhor que o outro impulsiona você a estar nova em folha, porque ninguém tem culpa de sua noite mal dormida, nem dos seus piores pesadelos.
Então bons sonhos a todos os que podem aproveitá-los, porque esse ainda é o meu maior sonho de consumo.


***


>Ps: visitem esse blog, tem textos ótimos que acho justo compartilhar com tds
http://anamesquita.zip.net/

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quarta-feira, abril 09, 2008

O preconceito contamina a alma




Hoje o assunto que me motiva a escrever é muito mais discutível do que se imagina, e ainda assim tão menosprezado e camuflado.
Falar sobre preconceitos é sempre algo delicado, mas como diz meu amigo está “na moda”, agora me pergunto em qual “moda”, será na de massacrar e condenar alguém por suas escolhas e gostos?
Vai ver era dessa moda que ele se referia, já que em se tratando dessa questão só consigo enxergar algumas pessoas acometidas de tamanha hipocrisia.
De acordo com o dicionário é o termo designado para "conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia preconcebida".
Pois é sempre foi o que realmente imaginei ser.
Diferença é a qualidade de ser diferente, de divergir de ser desigual, não semelhante, ou seja, nós como meros aprendizes desse espaço de tempo terreno que nos é concedido, vamos ao longo da existência incorporando valores e aprendendo a respeitar o outro, e suas características, mas será que fazemos isso?
Desde muito cedo, lidamos com os conceitos de igualdade e diferenças entre todos os indivíduos, o fato é como esses conceitos são passados de geração para geração.
Há tempos atrás quando as pessoas careciam de informações e orientações sobre certos assuntos, até seria tolerável compreender que alguns temas eram objetos de tabus, mas não me venha dizer que em plena era globalizada isso ainda está presente, e o que é pior, maciçamente presente.
Irônico não é mesmo, evoluímos em tantos aspectos, na tecnologia como exemplo, mas nesse aspecto justamente ainda vivenciamos a era mais tosca de todos os tempos.
O grande desafio do ser humano talvez seja realmente esse, respeitar as diversidades, seja elas de opiniões, de multiplicidades, de experiências, cultural, sexual, etnias, religião, idades, de atitudes, de todos os níveis possíveis, ser “diferente” dos moldes estabelecidos pela sociedade gera discussões, indagações, repudia e o bichinho do PRECONCEITO, é um exercício de cidadania, um exercício interno primeiramente.
O fator cultural pesa muito nesses julgamentos antecipados, valores, ideologias, contribuem para contaminar as pessoas com esses sentimentos que só fazem mal para quem os experimenta e os lança desproporcionalmente.
Mas em qual dos conceitos ditados pela sociedade como toleráveis você se encaixa?
Sempre existirá alguém que não aceite suas idéias, não goste da forma como você se veste, da maneira como você demonstra as emoções ou como se comporta diante de algumas situações.
Com toda certeza é muito complicado limitar o certo do errado, até onde a verdade do outro é a absoluta e onde começa a sua verdade.
Mas também não há como dizer que jamais somos ou seremos preconceituosos por qualquer motivo que for, já que sempre existirá coisas que nos incomodam, e passamos assim a adotar automaticamente a posição de pré-conceito, que nada mais é que fazer um pré julgamento sobre algo que não sabemos exatamente o que significa ou como se procede.
Mas podemos amenizar as coisas, não discriminando ninguém por suas opções ou condições, de maneira precipitada e injustamente.
Precisamos sim respeitar o comportamento de cada um de acordo com sua conduta particular.
Estou fazendo uso do chamado “nariz de cera” em jornalismo, para deixar minha insatisfação em algumas situações que infelizmente presenciei nos últimos tempos.
Apontar o dedo para outro indivíduo sem critérios nenhum é exercer crueldade em primeiro grau.
Abominável quem se acha no direito de ser o detentor da verdade e se julgar melhor que alguém por alguns aspectos que os divergem.
Sou vítima de presenciar fatos que nem encontro definição para tais, mas também nos últimos dias pude vivenciar o outro lado do preconceito, o lado de dentro.
O ser discriminado é algo que nos deixa profundamente abalados e desconcertados, mesmo se você tem uma postura firme sobre seus ideais e conceitos, mesmo assim machuca.
As pessoas são diferentes por inúmeros motivos, e respeitar a todos é um dever, é imprescindível, não estou dizendo para compreender ou aceitar, aprender a conviver em harmonia é uma tarefa constantes, mas tão desesperadamente necessária.
Eu entendi como é ser olhado diferente, como é ser julgado por algo que você escolhe ou decide, como é ser desrespeitado sem o menor cabimento, e garanto não é nada agradável se ver obrigado a defender-se mesmo sem vontade ou necessidade aparente.
Já havia passado por situações de discriminação por motivos familiares, por ter alguém em uma condição especial em casa, o que nem vou tocar no assunto, porque renderia muitas páginas. Mas uma coisa é sentir o peso do preconceito por terceiros outra coisa é sentir como eles sentem.
Cada ser humano é como é, distinto em suas particularidades, e ninguém é 100% bom ou 100% mau, somos o que somos, e vamos caminhando tentando acertar, erramos na maioria das vezes, mas na tentativa de fazer a melhor opção.
Como o milenar ditado celta “Toda vela acessa projeta uma sombra, não deixe que ela tome conta de você. Sair do lado escuro da vida e aproveite o sol.”
Não vamos nos deixar contaminar pelos conceitos equivocados.
Quem sabe abrir os olhos para nós mesmos e aprimorarmos o que temos de melhor, conseguimos enxergar no outro semelhanças que nem imaginávamos que existissem.
O respeito às diversidades é o melhor caminho para paz.
***

terça-feira, abril 01, 2008

Último monólogo


Meus pensamentos só vieram pedir trégua
A esse amontoado de idéias
A essas lembranças que rasgam
A melodia que ficou para trás
Aos espelhos estilhaçados

Peço paz para um coração desmontado
Para um querer impertinente
Para um gostar desgovernado
E um sonhar inacabado

Quero espaço para juntar os pedaços
Consertar o que está errado
Ou enganar o que não posso mais

Preciso encontrar as chaves que
Tragam-me de volta para o portão principal
Não vou seguir as mesmas pegadas
Arrisco num salto inválido

Aqueles fantasmas me rondam
No cair da noite,
Quando a lua está cheia
Quando tudo se cala
Quando o silêncio se faz presente
Espreita e tortura o que já não posso mudar
Tento me afastar do reflexo aparente
Mas caiu na mesma corrente

Quebrei meu último escudo
Agora nada mais protege
A não ser o orgulho
Que insulta minhas vontades
E se mostra capataz
Dos meus sentimentos

Eu busco aquele sossego
Aquele que sabe cerrar meus olhos
Que cala a minha boca
Que me aquieta por dentro
E acalenta essa alma atormentada
Pelas coisas que não conhece
Mas que arrisca descobrir

Onde será que meu eu se escondeu
Correu tão longe
Que não consigo observar
Mais distante do que pude imaginar

Esse espaço aqui amedronta
Roubou a coerência das minhas palavras
E o meu código de ação
Onde busco a salvação?
Por qual caminho devo prosseguir?

Não vou mais ficar sentada
Olhando o mundo passar em vão
Então, adeus para quem fica,
Vou rumo ao que me espera
Sem me preocupar se encaixo
Ou não em seu conceito obsoleto

Por isso não me mostre essas emoções
Nem elas esperam me fazer companhia
Confio bem mais em minhas razões
Elas não me falham,
E nem confundem minhas aspirações

Agora minha concha se fechou
A tempestade sempre passa
E quando sair o sol
Não vou mais estar aqui para ver.


***