terça-feira, abril 01, 2008

Último monólogo


Meus pensamentos só vieram pedir trégua
A esse amontoado de idéias
A essas lembranças que rasgam
A melodia que ficou para trás
Aos espelhos estilhaçados

Peço paz para um coração desmontado
Para um querer impertinente
Para um gostar desgovernado
E um sonhar inacabado

Quero espaço para juntar os pedaços
Consertar o que está errado
Ou enganar o que não posso mais

Preciso encontrar as chaves que
Tragam-me de volta para o portão principal
Não vou seguir as mesmas pegadas
Arrisco num salto inválido

Aqueles fantasmas me rondam
No cair da noite,
Quando a lua está cheia
Quando tudo se cala
Quando o silêncio se faz presente
Espreita e tortura o que já não posso mudar
Tento me afastar do reflexo aparente
Mas caiu na mesma corrente

Quebrei meu último escudo
Agora nada mais protege
A não ser o orgulho
Que insulta minhas vontades
E se mostra capataz
Dos meus sentimentos

Eu busco aquele sossego
Aquele que sabe cerrar meus olhos
Que cala a minha boca
Que me aquieta por dentro
E acalenta essa alma atormentada
Pelas coisas que não conhece
Mas que arrisca descobrir

Onde será que meu eu se escondeu
Correu tão longe
Que não consigo observar
Mais distante do que pude imaginar

Esse espaço aqui amedronta
Roubou a coerência das minhas palavras
E o meu código de ação
Onde busco a salvação?
Por qual caminho devo prosseguir?

Não vou mais ficar sentada
Olhando o mundo passar em vão
Então, adeus para quem fica,
Vou rumo ao que me espera
Sem me preocupar se encaixo
Ou não em seu conceito obsoleto

Por isso não me mostre essas emoções
Nem elas esperam me fazer companhia
Confio bem mais em minhas razões
Elas não me falham,
E nem confundem minhas aspirações

Agora minha concha se fechou
A tempestade sempre passa
E quando sair o sol
Não vou mais estar aqui para ver.


***

Um comentário:

Ana Mesquita disse...

Adorei seu poema! A parte sobre "juntar os pedaços" me fez lembrar de uma música do Marcelo
Quintanilha que eu adoro - e me identifico com a letra - chamada Mosaico. Sobre se fiar mais à razão, acho que ando tentando traçar o caminho oposto, mas, por enquanto, ouço com certa freqüencia: "você pensa demais!".