sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Passeio estranho....


A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina.

Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente.

Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.

Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo.

Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar.

Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria.

Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.

Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando.

E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?



*Charles Chapplin*




(((A morte por ela só é tão imensamente ingrata, que nem cabe palavras)))


... Como diz aquele meu amigo, "tudo fica assim, pela metade"....

E, pensando nessa única certeza, é notável o porquê de tantas inconstancias...

E talvez mesmo o que assombra é esse 'não terminar', esse pavor de não ter vivido

tudo aquilo que almejamos, de não fer tudo aquilo que nos despusemos...

O irônico, é que não importa o que se faça, nem para onde vá, a sombra dela

sempre irá nos perseguir até chegar a 'hora'.

Engraçado também, porque antes tinha tanto medo dessa 'hora',

da 'minha hora',

e como as coisas mudam,

agora já não é mais isso que me amedronta,

meu medo maior e insano é da

'HORA' dos outros.... pior que 'nossa hora', é ter que se conformar

com a 'hora' de quem amamos...

Isso sim me apavora desesperadamente.

é, surgiu-me essa perplexidade de perceber que

meu medo não era 'aquele', mas sim 'este'.

Como Woody Allen ressalta;


"Não que eu esteja

com medo de morrer.

Apenas não queria estar lá

quando isso acontecesse."


nem seria esse o caso....


Pior que ela é a impossibilidade mais real que conheço...

E pensando naquele dia lá no cemitério,

nem é tão tenebroso assim,

aquela calma profunda, de novo ironicamente

é tudo o que buscamos as vezes durante a vida toda,

obviamente em outros aspectos, mas na mesma dimensão.

E, sentada ali, a morbidade nem tem lugar em mim,

mas, quis ficar ali horas, para absorver aquela 'paz' absurda,

mas tão reconfortante que 'eles' me permitiram usufruir.

E, quando aquela multidão rompeu o 'meu silêncio mórbido'

pude perceber como 'a vida' é essa fração de segundos que não

há como se prever, nem tão pouco correr.

De impulso, me veio a vontade de sumir dali,

mas segurei a respiração naqueles "3 segundos" sem fim, que

a Nilde me ensinou........e Ai, incrivelmente,

me transporto daqui para ali.

Ao meu lado, minha esquerda, para ser mais precisa,

se instala aquela 'hora'... logo ali.

Ouvi alguém murmurando baixinho :"Ôh, hora mais difícil no mundo meu Deus, porque isso!".

Me senti mais invisível e imóvel do que nunca,

afinal estava ali, compartilhando de alguma forma tudo aquilo,

e sem me dar conta.

E não era justamente nisso que eu estava pensando?

Naquela 'hora sombria'?

Achei melhor, continuar ali, sentada, com a cabeça baixa como que em orações,

na verdade estava de alguma forma.

Pessoas estranhas, e no final todos com a mesma dor.

Não importa o que se faça durante a vida,

a dor no final para os que ficam é a mesma.

Aquele cenário nem de longe era dos melhores,

nem eu buscava por isso quando ali entrei.

E o garotinho que correu até minha frente,

e me olhou daquele jeito tão abosrvido de sofrimento e confusão?

Apenas balancei a cabeça, como se entendesse o que ele sentia.

E de fato entendia, já passei e ainda passarei por tantas situações semenlhantes,

sentirei essa dor mais tantas e tantas vezes

e cada vez me acostumando menos com

esse amargo sabor.

Estranho ser 'figurante' de uma cena que nem mesmo nós escolhemos.

E de novo , aqueles pensamentinhos que me rodeiam,

Afinal de contas, somos isso no mundo

Atores principais de nossas próprias histórias, coadjuvantes das dos que nos cercam,

e meros figurantes e expectadores dos tantos outros.

Não consegui estrangular o choro, quando a massa foi embora,

Na verdade, acho que ele esperava para sair, desde antes de sair de casa.

Fiquei por ali mais um tempo, é isso, o tempo passa tão rápido.

Hoje aqui, amanhã ali, e depois lá.

Ainda tinha umas três pessoas "vagando" por ali,

a procura de um pedacinho seu em alguma lápide.

Fui até a sepultura, tudo remexido,

incrivelmente desarrumado,

que sensação atormentadora,

o rapaz que arrumava as flores me disse,

essa é a vida ou será a morte?

e acrescentou: "Novo ele né, nossa, por mais que eu esteja acostumado,

nunca estarei o suficiente"

Aquilo, com certeza me invadiu por todos os poros,

e aquele arrepio novamente na espinha.

Nem respondi, sai o mais rápido que pude.

Não precisava ter ouvido aquilo,

nem queria compartilhar daquela dor que não era minha.

Quando estava cruzando o portão central,

pensei vou tomar um sorvete , o calor está de matar!

Ai.... que palavrinha.

Vi a florista logo na entrada,

foi instintivo, espontâneo

comprei o primeiro que ela me deu,

e retornei naquela 'sepultura',

agora estava vazia, infinitamente vazia.

Me abaixei, e deixei ali as flores.

Não me pergunte porque,

não sabia quem era, nem de onde,

nem o que tinha acontecido.

O que sei, é que agora

toda vez que volto,

passo por lá para dizer olá.

deixo minha flor,

e vejo aqueles olhos grandes da foto,

É, agora tem uma foto, um nome, uma data.

32 anos, e aqueles olhos,

que me olham como se entendessem minha atitude.

Nos tornamos amigos, não é completamente absurdo isso.

Mas sinto-me tão bem.

Acho que compreendo melhor as coisas agora.

Pelo menos algumas coisas....



.............****..........












Nenhum comentário: